30.3.08

Zikzira Teatro Físico: espaço ação e intervenções urbanas



Zikzira Teatro Físico está realizando o projeto Solilóquio, na sede do grupo, o Espaço Ação - um lugar voltado para a difusão e a formação em teatro físico e criações híbridas, em Belo Horizonte. Fernanda Lippi e André Semenza estão instigando na cidade um olhar sobre as potências do corpo manifesto, que é o teatro físico.

"O zikzira espaço ação estreia o programa de 2008, ‘Soliloquios’, com solo internacional, do premiado bailarino Coreano Sung hwa Kim, no dia 09/10 de Maio, com bate papo, na Zikzira. Entrada franca. O zikzira espaço ação volta a todo vapor e dá continuidade a sua programação. Contemplado pelo Prêmio Cena Minas o espaço abre inscrições para o projeto “Solilóquio”.
Em 2008, o espaço da continuidade a seu programa variado e internacional chamado ‘ação contraria’, apresentando o projeto Solilóquio, onde demonstra o não confinamento nas suas formas de abordagem cênicas; dando a oportunidade para artistas que tenham uma característica singular a realização de cenas individuais, onde a forma dramática do discurso em que o corpo extravasa de maneira ordenada ou não, os seus pensamentos e emoções em monólogos ou solos, sem dirigir-se especificamente a qualquer ouvinte, criando assim um tempo no espaço onde o privilegio de testemunhar um ato de ações físicas se torna público.
Artistas brasileiros que tenham uma característica singular são convidados para apresentarem cenas individuais. As inscrições podem ser feitas pelo site
www.zikzira.com/actionspace. O projeto “Solilóquios” sinaliza para o incremento da dimensão inclusiva desta Companhia em diversos sentidos. Em primeiro lugar, todas as apresentações resultantes deste projeto serão objeto de gratuidade. Em segundo lugar, a realização de debates entre platéia e artistas pretenderá mais do que apenas a exposição de seus respectivos processos criativos: esperamos ainda contribuir para a elevação do juízo crítico do público presente em nossas apresentações. "

- Em tempo: O Zikzira está participando de uma intervenção cênica em São Paulo, no dia 12/03, juntamente com o Teatro da Vertigem e o grupo de teatro Peruano, Lot. A consultoria é de Antônio Araújo.

Referências:

www.zikzira.com/actionspace
ROMANO, Lúcia. O teatro do corpo manifesto: teatro físico. São Paulo: Perspectiva-
Fapesp, 2005.

Do Teatro Performativo e das vanguardas: anotações sobre o Encontro Mundial de Artes Cênicas


Abro algumas anotações sobre duas conferências do 6o Encontro Mundial de Artes Cênicas A cena emergente.

- Josethe Féral apresentou uma conferência intitulada “Por uma poética da performatividade”. O conceito de performatividade é colocada no lugar de teatro-pós moderno e teatro pós-dramático.

- Por que performatividade? Féral entede que o conceito de performatividade está no centro do teatro hoje. Ela discutiu o conceito de performance, que subtende duas visões: a) o conceito antropológico, estudado e difundido por Richard Schechner e b) o conceito oriundo do campo da performance art. Féral fará uso das duas fontes para construir a noção de performatividade. No primeiro caso, ela considera que o termo performance toma um sentido muito amplo, ao abarcar, na trilha de Shechner, todos os domínios da área da cultura, desde os ritos, esportes, eventos espetaculares etc. O conceito, então, perderia muito de sua eficácia teórica.

- Féral contextualiza essa linha de pensamento: no desejo político dos anos 80 de reinscrever a arte no cotidiano, combatendo ainda a separção entre cultura popular e cultura erudita. A obra que teria impactado decisivamente o contexto cultural nesta perspectiva é The end of humanism, de Richard Shecnner, publicada em 1982.

- Josette Féral ainda citou outro autor e obra, que não consegui anotar, e que teria focado a performace como pensamento artístico. Renato Cohen, um autor, criador e difusor desse campo no Brasil, seguia justo pelas trilhas de uma performance como linguagem. A performance, nesse sentido, redefiniu, para Féral, os parâmetros da arte e do teatro.

- Portanto, para construir o conceito de performatividade ela utiliza, numa via, a visão antropológica, via Schechner, para quem o ato performativo caraceteriza-se como um jogo ritual sob três aspectos: being (ser), doing (fazer) showing (mostrar). E noutra via, as pesquisas e criações da performance art.

- No teatro perfomartivo, não estamos mais na esfera da representação, mas no acontecimento - no real. Tais realizações não podem mais serem julgadas, diz Féral, como sendo verdadeiras ou falsas: elas simplesmente acontecem. Pertecem à ordem da ocorrência (eventness). Coloca-se em cena o processo, realçando o aspecto lúdico do acontecimento, num risco real do performer.

- Josette Féral mostra ainda que a performatividadade tem a ver com os elementos de desconstrução e intertextualidade, de escrita como obra performática (Derrida). Nesta ordem, pode-se ou não, no teatro performativo, que o objetivo seja atingido. Há uma desconstrução dos signos e o espectador descobre o prazer em participar disso. O objetivo da performance não é o de produzir signos, como é o caso do teatro, mas sim de flutuar na ambiguidade das significações.

- No final de sua exposição, ela pergunta se a performatividade, ao se contrapor à representação, não estaria se diferenciando também da teatralidade.

- Richard Schechner fez teleconferência intitulada “Cinco vanguardas… ou nenhuma”. Alguns traços por ele realizados me chamam a atenção: a) se ainda podemos falar de vanguardas quando em todos os lugares (festivais, encontros etc.) o que temos são os procedimentos e realizações da performance, das linhas de experimentação em arte; b) a economia global; c) a transformação da arte em evento (vide o 11 de Setembro nos EUA); d) as relações entre arte e ritual. Apesar de não estarem situadas no mesmo dia, a fala de Schechner me coloca muito mais em continuidade e contraponto à de Josette Féral - por isso as apresento juntas.

- A exposição de Schechner sobre a globalização e a performance, assim como a transformação da arte em evento trouxe muitas perguntas. Schechner citou dois comentários de artistas sobre os ataques às torres gêmeas, sem falar no seu comentário pessoal, já que ele assistiu à destruição do seu próprio apartamento. O que ele afirma é que não se tratava, naquele caso, de uma ofensiva puramente militar, mas de uma investida no plano mental, na transformação do evento num espetáculo: no efeito do medo. Schechner cita dois comentários de artistas sobre o ataque às torres gêmeas. Primeiro, o músico Karlheinz Stockhausen, que afirmou sobre o ataque terrorista: "O que aconteceu lá, e agora todos vocês têm de reajustar seus cérebros, é a maior obra de arte que já existiu"

- O segundo, Dario Fo, que disse ser a destruição de vidas produto da mesma lógica, capitalista, que mantém milhares de pessoas em condições sub-humanas no planeta, quando não simplesmente mortas dia após dia. O que chocou a mídia e muitas outras pessoas, diz Schechner, não foi a fala de Dario Fo, mas a de Stockhausen, porque este cita a arte. Equivale um ataque terrorista à categoria de obra de arte? É a pergunta que Richard Schechner deixa no ar.

- Muitas e muitas pessoas no mundo dedicam-se à arte como vida, realizando o sagrado, não buscando recursos ou fama. Lembremos que, no contexto do pensamento de Schechner a performance está ligada às dimensões simbólicas do agir humano, se posso dizer assim. Portanto, como ele mesmo disse na teleconferência, se há os que procuram na arte a chance de se tornarem inseridos no mercado, há os que se dedicam aos aspectos religiosos e cotidianos. Há, aqui, ecos de John Cage, que Allan Kaprow teria se apropriado ao falar de uma arte como vida, diferentemente de uma arte como arte. Se esta última segue na linha de tradição da obra de arte a outra tem por necessidade as pequenas ritualizações cotidianas que formam experiências possíveis experiências estéticas.

- John Cage, apropriando-se do Zen Budismo, trouxe esse plano possível: o de que não há nenhuma experiência do sagrado (em religião ou arte) que seja superior à nossa experiência cotidiana.

- Penso que, num mundo globalizado, de um capitalismo que se faz cognitivo e cultural, a performance art e os planos de experimentação passam a fazer parte daquilo que Maurizzio Lazzarato e Antonio Negri chamam de “trabalho imaterial”.

- Além disso, penso que Shechner está falando não somente de uma performance num sentido amplo, que é o antropológico (ritos e modos de ser, fazer e mostrar), mais do que isso, ele abala definitivamente as fronteiras e limites da arte, trazendo-a para o plano da mente e da impossiibilidade de categorização. A arte explode para fora dos seus redutos de desenvolvimento e passa por mutações.

20.3.08

O pensamento nômade de Ailton Krenak

Tive o prazer de almoçar com Ailton Krenak, cacique, líder da causa indígena e ambiental, coordenador da União das Nações Indígenas (conselho que reúne 180 tribos) e assessor do Governo de Minas Gerais para as questões indígenas. Túlio Marques, militante da causa ambiental e cineasta, foi quem me apresentou Ailton Krenak.

Fígura impar, diga-se de passagem. E com posses de excelente humor e vivacidade.

Enquanto almoçavamos um prato macrobiótico, Ailton Krenak foi traçando seu pensamento nômade. Um pensamento que não busca referências, estando sempre a caminho. E com um brilho nos olhos que vai ao encontro dos olhos de seu interlocutor, Ailton exercita uma fala leve e certeira.

Relatei a Ailton Krenak o meu primeiro contato com povos indígenas, aos cinco anos de idade, quando vi uma tribo, possivelmente de Maxacalis, entrando em Teófilo Otoni com uma série de movimentos e danças. Imagem muito forte que ainda toca minhas retinas, principalmente quando me deparei com um menino índio da minha idade, sendo que, durante uma fração de tempo, nós nos olhamos parados.

Ailton fez a cartografia dessa imagem: traçou planos, cartas e abriu um universo até então desconhecido para mim: "Eles não estavam entrando na cidade para dançar ou festejar, mas deveriam estar a caminho para o sul da Bahia, realizando um plano mágico e no percurso atravessavam instituições, cidades, alojamentos..."

E por aí Ailton Krenak foi me iniciando - posso dizer assim - num pensamento de reencantamento do concreto. Coisas leves, sem propósito, mas que vão se insinuando como um vento que vem de longe. Contou mais sobre os Maxacalis, povo que admira muito, principalmente porque mantêm sua língua original, apesar de estarem em permanente contato com o que ele chama de "pior da natureza e do humano", ou seja, a destruição dos recursos naturais de que Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce, que ele considera sem parâmetros com o resto do país e, também, com a violência e a exploração humana que caracterizam a região.
No meio da conversa, Ailton acolheu e soltou um pensamento sobre a não-referencialidade e a dispersão do eu: "A gente imagina que é referência de alguma coisa. Uma bobagem (risos). Basta a pessoa sumir ou morrer que o cotidiano continua intocado..."

O nosso líder Krenak é uma pessoa que exercita um pensamento que espreita o momento, valoriza o encontro e dispersa esforços de auto-importância, sem deixar de estar atento ao entorno. Nos despedimos com o desejo de um futuro encontro.

Valeu, Ailton.


Referências:
Blog do Cacique Ailton Krenak
Rede Povos da Floresta
Entrevista: Receber sonhos. Versão eletrônica de
Teoria e Debate da Fundação Perseu Abramo.
Julho-Agosto de 1989.
NOVAES, Adauto org. A outra margem do ocidente. Cia das Letras.

18.3.08

Composições do deserto - ou pausa para um sonho

O sonho foi assim: um grupo de pessoas encontra-se num deserto em meio a tempestades de areia. Deparam-se com alguns abrigos, cada um deles contendo estranhos instrumentos musicais, formados por pequenas tábuas muito finas, compridas e paralelas, que recebiam os ventos e, através do seu sopro compunham música. Instrumentos pobres, pessoas estranhas, dispostas a serem soterradas pelas areias carregadas pelos ventos do deserto à noite. Uma atriz, escavando a areia e encontrando corpos e instrumentos pergunta se vale a pena morrer por isso.

Um dos instrumentos tocado pelo vento gera uma cadeia mutante de três expressões: birds – cor preta – cor azul. Os compositores do deserto estão agora reunidos: entre eles, o músico e irreverente poeta do rock Frank Zappa que pergunta pelo significado da palavra prometerium. É só o tempo de clicar e abrir o programa do dicionário eletrônico, mas Zappa já havia resolvido por si mesmo e continuava a compor. Talvez, não seria ali, no dicionário, que o sentido da expressão pudesse ser encontrado.

Será mesmo esta palavra – prometerium? Quando eu a procuro, vasculhando as réstias de luz da manhã, encontro a palavra folículo. Esta teria a chave para encontrar aquela. A que intervalo de significado se liga esta palavra, encontrada no estado de vigília. Como voltar a sonhar? A dica será folículo? No dicionário, descubro que “prometer” vem do latim, promettere, “atirar longe”. Por que a designação em rium?

Aquelas pessoas andam. E encontram uma mulher negra, de vestido branco, na porta de uma casa pequena, de madeira cinzenta já desgastada pela chuva, e quase cantando pronunciam a palavra florange, enquanto ela levanta suavemente os calcanhares.

15.3.08

Anotações sobre recusa, resistências e culturas afirmativas

1. Quando penso nas estratégias de recusa, tomo por caminho a Poesia da Recusa, de Augusto de Campos. O poeta e performer Ricardo Aleixo foi quem deu a dica da leitura. Logo na abertura do livro, Augusto lembra Valéry, dizendo que “o trabalho severo, em literatura, se manifesta e se opera por meio de recusas”. A recusa opera em linhas estéticas e éticas. Augusto de Campos lembra que, em poesia, as duas estão entrelaçadas.

Do músico John Cage ao criador teatral e filmaker Carmelo Bene: trilhas de recusa.

2. As micropolíticas tiveram expressão e força em Foucault. Ele distingue, por exemplo, entre os vários regimes de técnicas, dois tipos que são as técnicas de poder e as técnicas de si. Assim, temos:

“as técnicas de poder, que determinam a conduta dos indivíduos, submetendo-os a certos fins ou à dominação, objetivando o sujeito; as técnicas de si, que permitem aos indivíduos efetuarem, sozinhos ou com a ajuda de outros, um certo número de operações sobre seus corpos e suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos deser; de transformarem-se a fim de atender um certo estado de felicidade, de pureza, de sabedoria, de perfeição ou de imortalidade.”


3. Foucault coloca também uma nova forma de luta política: não somente aquelas que se estabelecem no âmbito das classes, dos grupos em vias do poder, mas contra as formas de assujeitamento. Por fim, ele antevia uma região em que as técnicas de poder misturam-se às técnicas de si.

Foucault explicita, num texto que discute o sujeito e o poder, as lutas micropolíticas: a) são lutas transversais: não se confinam a países, governos específicos etc. b) não são lutas que visam os efeitos do poder, mas antes criticam o poder não controlado sobre os indivíduos, sobre os corpos etc;c) são lutas imediatas: não questionam a instância distante de poder, mas a que está envolvida diretamente;d) são lutas que questionam o status do indivíduo: o que os restringe quanto às suas escolhas, o que define para si uma identidade, o que os separa dos outros indivíduos, e todas as formas de assujeitamento;e) giram em torno da questão: “quem somos nós?”

4. Porque a política antecede o ser, diz Deleuze. Já estamos, sempre, numa situação política. Porém, a macropolítica não é a detentora do plano de exercício politico. Não cobre os territórios, mas realiza capturas - ou melhor, apropria-se das forças da vida. E não são a fonte de inspiração micropolítica. Porém, não vamos pensar que as políticas que funcionam num plano de representação são más. Estão aí, no plano da vida, exercendo poder. A questão do fortalecimento da participação na esfera macropolítica pode ser uma contribuição micropolítica? Penso que isso é possível, mas não reduz ou delimita a ação dos movimentos micropolíticos.

5. Por outras linhas, proliferam as culturas afirmativas. Não são se opõem às recusas. Culturas afirmativas, aqui, estão no lugar de culturas de resistência. As micro-políticas procuram sair da lamúria e, no mínimo, diriam com o sambista Ismael Silva: tristezas não pagam dividas. Não estamos falando de identidades: A=A que não B. Estamos falando da substituição, nas culturas afirmativas, do “é” pelo “e”. A série projeta-se a caminho, não pára num retrato. As culturas afirmativas não coincidem consigo mesmas, mas com suas transições (Brian Massumi). As micropolíticas tem a ver com o incremento da potência de agir (Spinosa).

6. Quanto às culturas afirmativas, tomo de Antônio Negri uma bela definição, a partir de Spinosa:

"Gostaria de dizer enfim que a redescoberta de Spinoza que devemos a Deleuze e a Matheron nos permite viver “este” mundo, isto é precisamente o mundo do “fim das ideologias” e do “fim da história”, como um mundo a reconstruir. Ela nos mostra que a consistência ontológica dos indivíduos e da multidão permite olhar para frente cada vez que a vida singular, como ato de resistência e de criação, emerge. E se os filósofos não gostam da palavra “amor”, e se os pós-modernos declinam dele seguindo a idéia de um desejo fenecido,nós, que relemos a Ética, nós, o partido dos spinozistas, nós ousamos sem falso pudor falar de amor como amais forte paixão, uma paixão que cria a existência comum e destrói o mundo do poder."

7. Penso, além disso, nos movimentos e militâncias estético-culturais, de como configuram respostas à questão da economia da vida. De como as novas gerações enfrentam o problema. Penso nas recusas das gerações que trilharam esse caminho. E no massacre que muitas viveram. E, ainda, das novas cooptações, das vanguardas estabilizadas etc.

O fascismo e o stalinismo foram obscuridades que o capital lançou mão em determinado momento. Um novo momento do capital no pós-guerra e a rebelião jovem toma conta das democracias do planeta. Refluxo do capital e cooptação dos melhores sonhos nas décadas seguintes. Estabilizam-se as vanguardas, ou elas insuflam mudanças no modo como o capital se faz acumular, principalmente através da arte e da cultura. Novos movimentos surgem nas lutas anti-globalização, justamente quando acreditava-se que nada novo ocorreria em termos de rebelião jovem.

8. Em outras palavras: a pressão da produtividade econômica sobre as novas gerações. Na década de 60, pela via alternativa e na abertura de possíveis que o capital utilizou como estoque de invenção para os anos de refluxo do dinheiro. Um novo movimento surgirá das filas dos jovens desempregados na Inglaterra: o punk. E o capital se desterritorializa mais e mais. Desmaterializa tudo. Inclusive a arte. Ocorre que o emprego acabou. O filósofo Gilles Deleuze deu a dica: estamos não mais nas sociedades disciplinares (Foucault), mas nas sociedades de controle (de tudo, do fluxo de informações, das atitudes que podem gerar novos processos de acumulação...). Não que aquelas não continuem atuando, mas inserem-se em algo mais complexo: O morcego e a mariposa: ela inventa a queda rodopiante e vertical, fingindo-se de morta, para fugir do predador e ele aprende a queda livre em quebradas de asa para pegar sua presa.

As lutas geracionais recolocam em pauta as questões dos valores simbólicos frente aos valores econômicos. As modalidades pré-fabricadas do desejo procuram definir nossa entrada no mundo em termos de sexualidade, saber de corpo, estética, ética. As estratégias de recusa, de resistência e das vias alternativas procuram responder a esta questão.

9. Não que seja um problema “jovem”. Aliás, alguns fazem crer que se trata disso. È um problema da vida e da renovação de suas forças. As respostas que temos encontrado nas militâncias estético-cultuais estão dizendo que habitar o planeta não é um plano pré-traçado pela junção valores e acumulação de capital. Há mundos possíveis. Recusas, resistências, afirmatividades e alternativas estão mostrando isso.

Referências:

Foucault, M. El sujeito y el poder. Traducción de Santiago Carassale y Angélica Vitale.

__________. As técnicas de si. In: Université du Vermont, outubro, 1982; trad. F. Durant-Bogaert).Hutton (P.H.), Gutman (H.) e Martin (L.H.), ed. Technologies of the Self. A Seminar with Michel Foucault. Anherst: The University of Massachusetts Press, 1988, pp. 16-49. Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 783-813, por Wanderson Flor do Nascimento e Karla Neves. Disponível no site do Espaço Michel Foucault.

Negri, Antonio. Uma filosofia da afirmação. In Spinosa e a Filosofia: Leitores de Spinosa.

Campos, Augusto. Poesia da Recusa. Perspectiva: 2006, São Paulo.